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A Associação Cultural TRUTA, em cujo viveiro residem vários clássicos (Büchner, Tchekov, Brecht) a par de criadores contemporâneos, escolhe, para esta co-produção, um inesperado Wilde. Uma Mulher Sem Importância (1893), retrato assassino da Mãe Castradora, foi concebida, em período produtivo, antes do Leque de Lady Windermere. Mal-amada da crítica (cf. Ellmann, 1987), a peça conhecerá várias traduções em língua portuguesa, algumas, antigas, aqui convocadas mas em versão cénica e dramatúrgica dos próprios criadores.

O actor Joaquim Horta, o encenador, relê a peça à luz de convicções pós-teorias de género, propondo-nos uma encenação que acredita, filosoficamente, numa aproximação, em espelho, entre os universos das mulheres e dos homens. Para esse fim, destaca, na abertura, o monólogo programático da Senhora Arbuthnot – o que lança, desde logo, uma pista para a leitura do trabalho -- e, através desta mesma figura nuclear (que dava, aliás, o nome inicial à peça), procede de modo a que os quatro actos em que se encontra organizada a acção demonstrem como, entre 1893 e 2015, a história das sociedades evolui, irrevogavelmente, de um isolamento em ilha, de cada um, para um futuro paralelismo social entre os géneros.

O interesse acrescido deste espectáculo, construído por um fascinante leque de artistas – com evidente diversidade de personalidades, sobretudo no feminino, que é quase um leque representativo do teatro português --, radica no embate com que actores e actrizes vão potenciar as suas personagens em confronto. Quem ganha a guerra? Os homens, cativos dos seus papéis, ou as mulheres treinadas no driblar das convenções?

 

Eugénia Vasquez - Lisboa, 23 de Agosto de 2015

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